É preciso tirar os clássicos das estantes.

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Em 2017, eu procura um texto teatral que me tocasse. Após muita procura, me deparei com a obra completa de August Strindberg. Entre tantas peças, a menos conhecida me chamou atenção. Ao terminar a leitura, completamente atordoada, senti como se tivesse levado um soco no estômago. Tinha encontrado o que buscava! Desde então, esse projeto se tornou um sonho, um desejo, uma obsessão. Era preciso tirar O Pai do pó das estantes e levá-lo à vida dos palcos. 

 

Strindberg escreve O Pai em 1887, num momento histórico marcado pelo fim de uma Era, quando as mulheres ainda aceitavam passivamente os papéis tradicionais que lhes eram atribuídos por uma sociedade majoritariamente masculina. Mas isso começava a mudar: algumas mulheres (entre elas, mães, esposas e filhas) ousavam ambicionar algo mais e mudar os rumos da própria história. Nada seria como antes.

 

Strindberg aponta uma mudança tão profunda na sociedade e quase prevê as forças que eclodiriam mais tarde em nossas vidas. Toda a lógica, a previsibilidade e a ordem estariam irremediavelmente comprometidas. Este texto tão contundente lança luz sobre uma questão que ainda hoje não conseguimos superar: o peso brutal do patriarcado, para homens e mulheres indistintamente.

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Foi um longo processo de viabilização do projeto, desde a captação dos recursos até a formação de uma equipe enorme de pessoas tão talentosas quanto comprometidas. Este espetáculo estreia pela força de criadores, técnicos, artistas; graças à existência da Lei Rouanet e à sensibilidade de empresas que apoiam a arte e a cultura. Este projeto encerra ainda um último desejo da produção: que possamos experimentar a arte como possibilidade de aprimoramento da nossa convivência, de forma mais leve e suave daqui para frente. Evitando as armadilhas espalhadas pelos caminhos tortuosos que o poder desmedido impõe a todas as relações em nossas vidas.

 

Que possamos sempre ouvir a dor dessas personagens extremamente humanas, retratadas em diálogos construídos com primor a ponto de serem considerados os mais constrangedores do Teatro Moderno. E por favor, como pediu August Strindberg na abertura de seu teatro em 1910, “não julguem tão duramente aqueles que irão se expor às luzes da cena.”

Tatiana Montagnolli
Atriz e Idealizadora do Projeto